Sempre fui uma criança patriótica. Desde pequena.
Era ver-me a olhar, na sala da escola primária, embevecida, para o hino nacional, a tentar decorá-lo todo de uma só vez. Sempre achei a bandeira uma coisa magnífica, sempre me encheu de orgulho os grandes homens que fizeram a nossa história.
Sempre achei A Portuguesa a mais bela música alguma vez composta, e olhem que é dificil bater em mestria o senhor Holopainen, sempre considerei que não havia paisagem mais bonita que a deste rectângulo.
Sempre gostei deste cantinho, destas pessoas, destes hábitos e costumes, destas vivência. E não é por ter costela fascista.
Sempre gostei de tudo o que cá havia.
Metia-me um bocado de impressão as pessoas que passavam a vida a falar mal de tudo e mais alguma coisa, dava a sensação que falavam sempre gratuitamente, só por falar, que no fundo as coisas não eram assim tão más, porque, afinal, sempre nos fomos safando mais ou menos, porque no fim do dia, as coisa haveriam sempre de se resolver.
Tinha sempre esperança que não fosse assim tão mau, que afinal valeria a pena esperar para ver, trabalhar mais para não ser tão mau, ir estudando para mais tarde poder ter algum na carteira, ajudar a produzir, fazer qualquer coisa para ajudar a levar isto para a frente.
Hoje, só hoje!, percebi como tenho estado enganada.
Hoje levei uma bofetada com a força e o peso de 25 anos de ilusões.
Este país não vai a lado nenhum. Está podre e corrupto. Não há bandeiras nem hinos bonitos para o salvar.
Este país está condenado ao fracasso. Não há figuras históricas que o salvem pois que os que governam não tem a sensibilidade, a capacidade de fazer para o bem comum nem o sentido de Estado e de país. E a oposição, que devia trabalhar como vigilante das vozes da minoria, faz tudo para ir para o poleiro em vez de se preocupar com o que poderia fazer para melhorar.
Este país não serve para ninguém que tenha vontade de trabalhar, progredir e evoluir. Fecha todas as portas àqueles que têm formação, não dá oportunidades àqueles que querem trabalhar, não permite um trabalho condigno e uma vida decente.
Tudo se faz neste país. Tudo é permitido.
À frente de órgão de utilidade pública, esperem, deixem-me rir primeiro, estão tiranos que pretendem abalar com as estruturas instaladas, ai que lindo, a demagogia, o sonho azul, e que no caminho, arrasam com toda a gente e expulsam o sangue novo daquele que devia ser o futuro para as próximas gerações.
Arbitrários e prepotentes, defendem apenas o próprio umbigo, não se preocupando com legalidades e inconstitucionalidades, que é isso, aqui mando eu e mais nada, quem não quer pode sempre ir-se embora, até agradecemos. Sim, senhor Bastonário, estou a falar de si.
Onde está o Estado, para defender os seus cidadãos?
Onde está o Estado do tal direito democrático, que tanto gostam de apregoar, que deixam que se cometam tantas atrocidades e atropelos à legalidade?
Onde está o Estado, o país, que sabe muito bem onde moro na hora de pagar impostos, mas quando preciso de ajuda, olha para o lado e assobia, fingindo que não me vê?
Este país não tem remédio, nem vai a lado nenhum enquanto continuar a ignorar as atrocidades que todos os dias acontecem aos seus cidadãos, enquanto fechar os olhos ao que fazem todos os dias à novas gerações, enquanto continuar obcecado com a dança das cadeiras do poder, enquanto continuar imenso na corrupção e continuar imerso num mundo autista e desligado do sofrimento dos que se esforçam por sobreviver.
Hoje, depois do impacto da estalada que levei, tive um misto de sentimentos quando a este país.
Tive, simultaneamente, uma espécie de vergonha de ser considerada como parte integrante deste povo que só paga e não bufa, que sofre enquanto trabalha enquanto os que mandam se sentam em cima deles, e uma vontade enorme de me divorciar do país onde fui parida, porque me recuso a ser comida por parva não tendo, no entanto, grandes alternativas.
Bem haja, senhor Bastonário, que todos os dias contribui para tornar este país um pouquinho mais um grande lago de merda que a Standard and Poor's acha que é.
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