Café e outros aditivos de cafeína, cinzeiro cheio de beatas, fumo tóxico que se prende nos pulmões e faz cancro, dizem. No meio, o olhar vazio, os dedos que torcem a toalha como que a calar o que não se consegue dizer, as tentativas de meter para dentro o que só lá dentro pertence.
Como são tortuosos os caminhos escolhidos, como pesa a bagagem, como é dura a subida, como dói a realidade nas costas cheias de chibatadas.
Palavras que ecoam, afinal não ajuda nada falar do que aflige, só torna a angústia maior, essa conversa de que partilhar problemas é solução para tudo não passa de uma treta fiada para os cuscuvilheiros de serviço que querem saber, forçosamente saber, e inventam patranhas para pôr o outro a vomitar tudo o que tem, pois que, no fim das contas, aquilo que se tinha por arrumado e escondido, uma vez cá fora, pode ver-se a verdadeira dimensão do estrago, dos destroços, do que era, só restos. Pensava que não era nada, mas afinal olha para isto, olha para aqui, o que antes era imaginário, afinal é bem real, bem palpável, se calhar sempre foi, apenas estive a fingir que não, não sei, não me lembro, mas agora, bem vês, está aqui, é real, verdadeiro.
Não há nada a fazer agora senão partilhar, mesmo que com tal gesto, o problema se tenha tornado muito maior que qualquer solução, há mais alguém nesta conversa, alguém que se reparte pelas duas, alguém que acompanha todos os dias, mas que, curiosamente, desaparace momentaneamente quando o café está na mesa, quando estão elas, não está mais ninguém e assim se engana a solidão.
Qualquer dia também passo o Natal sozinha.
Sozinha, não. Tens-me a mim.
O fumo invade os pulmões e volta a ser expelido pela força do hábito.
Como são sinuosos os caminhos que se escolhem.
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