Daquilo que a minha avó, ou a filha dela, gostam de dizer, numa lógica de preocupação/pergunta estúpida, que apenas tem como efeito ter vontade de mandá-la(s) para sítios feios ou enfiar coisas menos próprias em orifícios corporais; entre elas, encontram-se:
- Vai lavar a loiça/arruma esse quarto/limpa a casa-de-banho que mais parece um cenário de guerra. Obviamente que não é preciso pedir/mandar para proceder a arrumações ou limpezas, mas provavelmente gostam de o fazer para dar um ar que continuam a poder mandar e desmandar como se de um ditador se tratasse. Progenitora que se preze tem sempre nas suas veias algum sangue de tirano.
- Quando é que te casas? Esta é a mais recente invenção em matéria de perguntas estúpidas capazes de tirar a paciência a um santo. Uma pessoa começa a caminhar alegremente para a casa dos 25 e vêm logo com estas conclusões e antecipações brutais daquilo que apelidam como vida adulta. Para depois rematarem a conversa com as ideias do seu tempo, o que é sempre uma bela maneira de exercitar os músculos dos olhos, de tanto se revirarem.
- O que é que fizeste ao cabelo?/O que é isso que tens vestido? Mais um modo de conversa que vai inevitavelmente parar às ideias de no meu tempo é que era, a juventude tinha juízo e não podia andar de qualquer maneira, havia respeito, que permite um óptimo exercício ocular, como descrito no ponto anterior. Noções de moda, zero.
- Estás mais gordinha, não estás?Pronto, aqui é que a sopa azeda. É uma puta de uma moral para falar, elas que estão mais cheias que nem vacas, a reparar na pança dos outros e tecer comentários sobre a mesma. Não há vergonha. Porque se alguém tem a triste ideia de dizer o mesmo a respeito delas, está o caldo entornado. Viva a igualdade...
- Bem que podias passar uma roupinha a ferro. Fujam, que a seguir vem o discurso da escrava do lar que trabalha para uma família inteira sem receber nada em troca, muito menos ajuda dos que só sujam e estragam, quando, estupores, têm bom corpinho para trabalhar.
- Já foste ver as novidades do Ikea? Esta simples pergunta, numa família normal e equilibrada, era apenas uma maneira de conversar sobre chacha; mas não na minha, que é apenas o prelúdio do Quando é que te casas?
- Ai filha, não fumes, que faz tão mal! Poupem-me. Acaso pedi os pulmões emprestados a alguém? Até parece que quando tinham a mesma idade não faziam o mesmo. Que faziam, ao contrário do que pregam, só que tinha de ser às escondidas.
- Quanto é que ganhas, afinal? Tens um pedaço a ver com isso...
- Da tua idade, já eu tinha filhos.Estás a pensar só ter filhos aos 40, não? Psché! Mais um prelúdio de Quando é que te casas?.Sim, porque já se sabe que para a Geração do Naperon casar e ter filhos tem que ser necessariamente por esta ordem de ideias.
- Esta geração está perdida. Quando se ouve nas notícias que agora as pessoas unem-se de facto, casam com pessoas do mesmo sexo, fumam erva, vão estudar para o estrangeiro ou qualquer coisa que saia da normalidade ditada pelas Tardes da Júlia.
- Não sabes cozinhar, pois não? Não, sabe o Boda. Nem vale a pena responder a isto, mesmo que de maneira simpática, porque a seguir vem o discurso associado ao, adivinhem lá?, exactamente!, Quando é que te casas?
- A minha filha é desarrumada/estroina/mal educada/parva/qualquer defeito digno de nota. Mas esta é a frase só usada quando estão presentes visitas, que é sempre bom transmitir o charme de um filho. Aqui, sim, ir apertar os atacadores dos sapatos ou assoar o nariz para não mandar bardamerda, esse local tão concorrido, tendo em conta a frequência com que o sugiro à maior parte das pessoas.
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