O comboio chega.
Normalmente gosto das viagens de comboio. São vagarosas e tranquilas. Adoro a passada constante que vai criando um ritmo completamente sincronizado com as minhas pulsações arteriais; cadenciado, suave, compassado. Sempre o mesmo. Quase como uma cantiga de embalar que convida a relaxar, a distender os músculos do corpo, a apreciar a paisagem, e a deixar-me ir. Tenho aversão à inovação, apaixonei-me pela rotina; apanha-me sempre. Entro e saio mecanicamente e já nem ouço o nome das estações. Não preciso, sei de cor...Nunca me engano na saída, e assim posso dispersar e ter pensamentos inúteis como:
Normalmente gosto das viagens de comboio. São vagarosas e tranquilas. Adoro a passada constante que vai criando um ritmo completamente sincronizado com as minhas pulsações arteriais; cadenciado, suave, compassado. Sempre o mesmo. Quase como uma cantiga de embalar que convida a relaxar, a distender os músculos do corpo, a apreciar a paisagem, e a deixar-me ir. Tenho aversão à inovação, apaixonei-me pela rotina; apanha-me sempre. Entro e saio mecanicamente e já nem ouço o nome das estações. Não preciso, sei de cor...Nunca me engano na saída, e assim posso dispersar e ter pensamentos inúteis como:
“Um dia quero conhecer a senhora que diz o nome das estações. E tomar chá com ela”
Há dias ainda menos profícuos...dias em que os sentidos estão entorpecidos...dias em que não penso absolutamente em nada...como um estado de meditação profundíssimo. Gostava realmente de ser capaz de o fazer: de superar a própria existência, alcançar o nirvana, libertar-me, mas não. É apenas um estágio do sono: actividade onírica prolífica.
Há ainda outros em que a música simplesmente ecoa, nem lhe ligo. Notas dissociadas que fazem a banda sonora de uma vida, sem nexo; os phones que de certa forma me desligam de tudo o que me circunda e criam um mundo autista, paranóico e obsessivo só meu, que eu gosto, que eu amo, e é nele que fico absorta em comparações ridículas e onde ensaio os discursos que farei durante o dia, teorizo problemas e descortino soluções para eles.
Tudo naquela hora, ao ritmo de um trepidar incessante...
Mas hoje foi diferente; hoje foi óptimo. Não ouvi música, não decidi pensar em inutilidades. Hoje quebrei a rotina, quebrei a dose de negatividade que todos os dias injectava no meu sistema...que me consumia e eu rejubilava. Pensei simplesmente que conclui mais um ciclo, que está acabada mais uma etapa e que por uns dias posso descansar. Superei o Adamastor. Job well done! Rest now.
* Fernando Pessoa
SB
1 comentário:
epa! post brutalissimo. ate pq é isso exactamente q sinto, menos a parte de ir tomar cha com a senhora q diz o nome das paragens :P LOL mas sim ja me questionei como ela seria lolol
fli.
Enviar um comentário