Quando chega uma nova ovelha ao rebanho, parece que as outras ovelhas ficam todas malucas com a nova companhia. Rejubilam alegremente, à volta do novo troféu, que se passeia vaidosamente, com um olhar arrogante, cheio de vento e novidade.
As outras ovelhas, coitadas, que nunca tinham visto espécimes destes, acham verdadeiramente que nada podia vir de melhor, que o que vêem é o supra-sumo do social, que não pode haver nada mais perfeito, que uma lufada de ar fresco na sua mísera vida.
A ovelha nova, é nova, mas sabe muito, e onde as outras pastam, já ela fez a digestão. Por isso, vai-se chegando com falinhas mansas, com fofuras e miminhos, para ver se se integra rapidamente, para não ter que ter muito trabalho a endrominar outras ovelhas. Mas nem por isso se esquece dos passos básicos que deve tomar, para não deixar que nenhuma das ovelhinhas mais espertas se aperceba que afinal, nem todas as fofuras, nem todos os mimos são de facto verdadeiros.
Se por acaso algum desses serezinhos idiotas consegue ver mais que uma lã bem escovada e um sorrisinho brilhante, terá de se ver com as outras a quem manifestar tais impressões que, assim que ouvem estas teorias, desatam num ataque fulminante à coitada que se atrever a abrir a boca para insultar a querida pequena deusa.
E os dias vão passando, sem tumultos, sem atropelos, a não ser aqueles que são dados por baixo da mesa, discretamente, como quem não quer a coisa, e que toda a gente finge que não vê, para não haver cá berbicachos, ou não se vê de todo, porque os óculos estão caros, e não há maneira de se ir trocá-los.
Assim caminha um rebanho, com elementos que até observam, mas que têm que ficar caladinhos, com outros que não vêem um bezerro coxo, mas se acham tão especiais, tão espertinhos, tão amados por quem aparenta ser o amor de uma vida de pasto.
Até ao dia em que vem o pastor, pega na ovelha nova e leva-a para o outro lado da cerca. Corta-lhe a lã, deixa-a nua, despida das peneiras e manias, dos preconceitos e taras, na frente de todos os outros. Depois, com uma faca no pescoço, faz-se o jantar para seis ou sete, que não se pode estragar nada.
O sangue jorra, quente, como um rio que corre, molhando os pés das ovelhas restantes, observadoras.
Acabou-se a jovialidade, a alegria, a espontaneidade da nova ocupante da quinta. Agora é só mais uma no meio delas, sem mais, sem menos, com todos os podres que nunca que quiseram ver, sem nenhum dos defeitos que lhe quiseram impingir. Sem nada, nada do que as outras não tenham. Não é nenhuma estrela. Se algum dia foi, acabou-se agora.
As ovelhas observam, quietas, impávidas. Umas choram, desviando o olhar da mancha rubra que cobre o chão. Outras, não choram, não estão tristes pela perda, mas também não riem. Aquelas que viram o que de facto existia numa simples ovelha novata, não uma diva, mas uma entre tantas outras.
Poderiam vingar-se, agora ; dizer, altivamente, “Estão a ver, não lhes disse? Quem tinha razão, afinal? Ora tomem lá!". Não dizem nada. Podiam rir-se da ironia espalhada na cara morta da agora velha e partida ovelha, mas não o fazem.
Mas, secretamente, têm vontade.
As outras ovelhas, coitadas, que nunca tinham visto espécimes destes, acham verdadeiramente que nada podia vir de melhor, que o que vêem é o supra-sumo do social, que não pode haver nada mais perfeito, que uma lufada de ar fresco na sua mísera vida.
A ovelha nova, é nova, mas sabe muito, e onde as outras pastam, já ela fez a digestão. Por isso, vai-se chegando com falinhas mansas, com fofuras e miminhos, para ver se se integra rapidamente, para não ter que ter muito trabalho a endrominar outras ovelhas. Mas nem por isso se esquece dos passos básicos que deve tomar, para não deixar que nenhuma das ovelhinhas mais espertas se aperceba que afinal, nem todas as fofuras, nem todos os mimos são de facto verdadeiros.
Se por acaso algum desses serezinhos idiotas consegue ver mais que uma lã bem escovada e um sorrisinho brilhante, terá de se ver com as outras a quem manifestar tais impressões que, assim que ouvem estas teorias, desatam num ataque fulminante à coitada que se atrever a abrir a boca para insultar a querida pequena deusa.
E os dias vão passando, sem tumultos, sem atropelos, a não ser aqueles que são dados por baixo da mesa, discretamente, como quem não quer a coisa, e que toda a gente finge que não vê, para não haver cá berbicachos, ou não se vê de todo, porque os óculos estão caros, e não há maneira de se ir trocá-los.
Assim caminha um rebanho, com elementos que até observam, mas que têm que ficar caladinhos, com outros que não vêem um bezerro coxo, mas se acham tão especiais, tão espertinhos, tão amados por quem aparenta ser o amor de uma vida de pasto.
Até ao dia em que vem o pastor, pega na ovelha nova e leva-a para o outro lado da cerca. Corta-lhe a lã, deixa-a nua, despida das peneiras e manias, dos preconceitos e taras, na frente de todos os outros. Depois, com uma faca no pescoço, faz-se o jantar para seis ou sete, que não se pode estragar nada.
O sangue jorra, quente, como um rio que corre, molhando os pés das ovelhas restantes, observadoras.
Acabou-se a jovialidade, a alegria, a espontaneidade da nova ocupante da quinta. Agora é só mais uma no meio delas, sem mais, sem menos, com todos os podres que nunca que quiseram ver, sem nenhum dos defeitos que lhe quiseram impingir. Sem nada, nada do que as outras não tenham. Não é nenhuma estrela. Se algum dia foi, acabou-se agora.
As ovelhas observam, quietas, impávidas. Umas choram, desviando o olhar da mancha rubra que cobre o chão. Outras, não choram, não estão tristes pela perda, mas também não riem. Aquelas que viram o que de facto existia numa simples ovelha novata, não uma diva, mas uma entre tantas outras.
Poderiam vingar-se, agora ; dizer, altivamente, “Estão a ver, não lhes disse? Quem tinha razão, afinal? Ora tomem lá!". Não dizem nada. Podiam rir-se da ironia espalhada na cara morta da agora velha e partida ovelha, mas não o fazem.
Mas, secretamente, têm vontade.
AS
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