Anda por aí um comentador de casos de polícia que só visto. Quer dizer, não é que o senhor em causa seja novidade no que a esta matéria diz respeito, mas é sempre um pasmar ouvi-lo dissertar.
Conhecido nestes lados por Hernâni Ermida, parece que é um senhor quer gosta de ter um espacinho na televisão para falar mal. Ah, então, não era comentar os casos de polícia? Não, isso é só um embuste para prender o telespectador, para dar um ar interessante à coisa, assim sempre se apanham uns tansos que não estavam à espera de ver a coisa e sempre vão ficando, que querem, o programa é mau, mas eu tenho tanto que fazer que não me apetece mexer uma palha, olha mais vale estar a ver isto que a trabalhar, e assim se engana mais um.
Falar mal, portanto, e não fazer um comentário isento, dar um opinião com pés e cabeça, sabe-se lá, uma critica fundada, de pessoa que realmente pensa naquilo que está a dizer. Não, não, nem por isso. Interessa sobretudo falar mal, e falar mal como gente grande, da polícia, do tribunal, do funcionário do tribunal, do juiz, dos advogados, essa corja maldita, e de todos os intervenientes no processo.
Mas fala-se mal porquê? Porque se trabalhou mal, porque não foram diligentes o suficiente, porque deixaram escapar os bandidos?
Também, sem dúvida, português que se preze e não tenha um cometáriozinho a fazer ao sistema judicial não é de cá, que faca as malas e vá viver para outro país, que isto aqui não há pão para malucos; mas sobretudo, este senhor fala mal, enfurece-se e insurge-se, especial e principalmente, quando o bandido que ele queria que fosse preso e condenado a prisão perpétua, que cá não há mas não faz mal, devia haver, que assim é que eles aprendiam, não pode ser condenado porque não há provas! E ele queria metê-lo na pildra porque tem cara de criminoso, e toda a gente lá no bairro dizia que ele fazia asneiras, mas principalmente porque o Correio da Manhã, esse adamastor do jornalismo, diz que ele é culpado, e se o rei dos jornais diz que ele é culpado, há que metê-lo num buraco e nunca mais de lá o deixar sair.
Pois que não há provas para meter um gandim na cadeia, e a justiça, ora porra, respeita as liberdades e direitos do individuo, e não condena ninguem a menos que existam provas plenas de que o tal individuo é mesmo gandim.
Coisa que irrita Hernâni Ermida, pobrezinho. Que queria os suspeitos todos metidos num buraco, existam provas ou não. Oh coitadinho do Hernâni Ermida que não pode ter na cadeia as pessoas que as outras pessoas dizem que são criminosas.
À merda mais o Hernâni Ermida, que só vem à televisão dizer asneiras e encarnar, na perfeição, diga-se, o espírito do Zé Povinho nos ideais de justiça, com todo o respeito pelo senhor Zé Povinho, pelo qual se tem a mais alta das considerações, quem é suspeito de ser gandim vai para a jaula e nunca mais de lá sai, assim é que se educam as crianças.
Coitado do Ermida, que tem um curso de Direito e tudo, para poder falar dos assuntos da justiça, que percebe muito bem aquilo que é o fundamento do sistema penal e que as garantias do arguido existem só para meter os gatunos cá fora, com a ajuda dos advogados, claro está, que esses são uns enviados do demónio, e a gente a trabalhar para esta merda toda.
Obviamente que o sistema não será perfeito; porém, enquanto existirem Ermidas por esse país fora, o mundo jurídico mergulha numa pocilga de comentadores de terceira, que dão a imagem de que isto, afinal, não tem ponta por onde se pegue.
Pergunta-se, afinal, para que foram tantos anos a estudar se quem faz os comentários e faz a justiça nas televisões, senhores!, é quem percebe tanto de justiça e Direito como eu de lagares de azeite.
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