Às vezes, não há certeza de que os senhores que fazem a política vejam nas pessoas mais do que números. Números, bem entendido, que apenas servem para lhes dar votos, e pouco mais. Ou então, estão convencidos que as pessoas são todas parvas.
Vejamos, por exemplo, a Dra. Manuela Ferreira Leite.
Não quer o TGV. Não quer, porque não, porque é caro, porque não temos dinheiro, porque não podemos esbanjar, porque estamos em crise.
Tudo bem, até aqui. Cada um saberá o que defende, há que ser coerente com as políticas e projectos do partido para o futuro.
E onde é que entram os espanhóis?
Ah, os espanhóis são maus, e porcos, e gandins, e só cá vêm para bater na gente, e matar a gente, e chupar o dinheiro da gente. Toda a gente sabe que os grandes problemas deste país são todos da responsabilidade dos espanhóis.
O que nunca se tinha reparado é que Portugal não é, afinal, uma província de Espanha. Ai não? Não se sabia, há quanto tempo foi isso? Pensava-se que eram uns vizinhos mal encarados, uma espécie de senhorios maldosos ou assim. E desde quando é que é assim?
Não se sabia que ainda tínhamos que levar com aquela frase lapidar de Espanha nem bom vento nem bom casamento, ou não estivesse o preceito um pouco ultrapassado.
Sim, os espanhóis tem interesse em construir o TGV até à fronteira. Mas os portugueses também. Ou acham que o dinheirinho fica cá a ganhar pó? Sim, os espanhóis podem não ser as melhores pessoas do mundo, só pensam nos interesses deles; todos os países fazem o mesmo. É preciso não esquecer que as negociações, em varias áreas, com os ditos porcos espanhóis, são também para ajudar a desenvolver este quadradinho à beira mar plantado. Que bem precisa. Além disso, se fossemos esperar que tivéssemos dinheiro, que não estivéssemos em crise, que pudéssemos investir sem ponderar os custos, ainda vivíamos em grutas e andávamos todos nus.
Que me lembre nunca houve dinheiro para nada, esteve-se sempre em crise, sempre com grandes défices, sempre com grandes percentagens de desemprego, com baixa produtividade. Com todas aquelas coisas que alegram os dias de toda a gente quando se levanta. Nunca houve um dia sequer em que a ideia base fosse estamos muita bem. Se fossem perguntarem pela rua fora no melhor dia de todos, todos haveriam de responder está mau.
Portanto, Sra. Dra., olhe para a frente.
Diz uma tira de BD, a melhor de sempre, Mafalda, de Quino, que o "problema dos velhos é que vêem o futuro com a nuca".
Explica muita coisa, não?
2 comentários:
Nunca tinha visto a palavra "Gandin" escrita. Adorei.
Não, é gandiM que se escreve.gandins no plural!
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