Todos os dias, chega-se a casa com uma ideia: a de, finalmente, arrumar o armário da roupa para evitar que, qualquer dia, salte de lá um monstro, tamanha a bagunça e porcaria que lá consta.
Todos os dias, chega-se a casa, atiram-se os pertences para o sofá e pensa-se: é hoje a merda do dia de tirar tudo do armário, fazer uma selecção das coisas boas e das coisas a deitar fora, arrumar as tralhas e deixar aquele espaço minimamente apresentável e utilizável. Arregasse-se as mangas, hoje é dia de trabalho.
Porém, chegada a hora do vá-lá-ver, especada em frente à coisa, outro pensamento ocorre: senhores, que tenho tanta coisa... Uma noite não me chega para fazer isto com pés e cabeça, vou precisar de um dia inteiro. Um dia? Antes um fim-de-semana. Que se calhar também não chega...
Mas, ó infortúnio, aos fins-de-semana há tanta coisa para fazer, um dia inteiro desperdiçado no meio dos trapos sabe a coisa nenhuma, fora todos os filmes que estão a passar na televisão, todas as séries a que se assiste religiosamente, mais todas as outras que estão armazenadas no disco externo, mais os postais de Natal que têm que ser feitos, mais os amigos e os cafés e os jantares, mais a família, o gato e o hóme, mais o caralho a sete e mais não-sei-o-quê...
E o armário engorda, engorda... E cria uma base de lixo textil sem memória.
Todos os dias, chega-se a casa com uma ideia, fixa, útil e necessária que é protelada por, basicamente, tudo e mais alguma coisa.
Se isto é assim com uma actividade tão simples como arrumar uma gaita de armário, o que será quando estiverem em causa a resolução de verdadeiros problemas... Questão tipicamente tuga, já se vê...
Assim se percebe porque raio é que este país não avança.
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