Caminhavam lado a lado, encolhidos nos casacos, subindo a rua que terminava lá longe. Não parecia, mas eram similares, filhos dos mesmos laços, unidos, mais que não fosse, pela figura pequenina e vestida de preto, mimada pelos anos, que vinha atrás, conjugando o fôlego com os passos, que os anos só mimam as pessoas no palavreado literário, quando pesam nos ombros a figura de estilo deixa de ter piada. Duas gerações separadas pelos passos. Os herdeiros. De fortuna alguma, da tristeza no olhar, do tempo que passou, do caminhar pesado, de si.
Passando os pesados portões, quase de olhos fechados sabiam o caminho até à casa que procuravam, apenas os mantendo abertos pelo trilho sinuoso debaixo dos pés, que pedia que nele não tropessassem, não fosse estar aberto algum buraco, daqueles de sete palmos, sítio perigoso para se cair, este.
Chegaram. A casa é baixinha, preta, de inscrições nas paredes e outros dizeres. Memorial.
Não se ouve nada, a não ser o vento que passeia por ali, despentando flores, sacudindo a água das poças, arrepiando uma ou outra cabeça escondida no intervalo de outras casinhas que por lá se amontoam. Silêncio e nada.
Olham uns para os outros. A velha figura nada diz, o vazio come-lhe as palavras. Os outros, os que são parecidos, olham também.
E num gesto repentino, um deles pega na vassoura velha, enquanto o outro vai buscar um balde com água. E sem nada acordarem, lavam e esfregam e limpam a casinha. E a velha continua a olhar, sem nada dizer, o que é que pode haver para dizer, limpar é gesto de vivência, os vivos limpam à sua volta para poderem viver, os mortos limpam-nos os vivos, que já nada mais há a fazer, ao menos sempre os vivos mantêm a ilusão de que sobra um último gesto, são coisas da vida, e da morte, porque não, tratar os que já não existem como se fosse seres deste mundo, é assim que se mantém viva a memória, ou o que seja, ao menos que não se passe a eternidade numa casinha feita de teias de aranha e outras sujidades.
Nenhum deles acordou o que que que fosse, e mesmo assim, sincronizados como bailarinos, não deixando passar poeira alguma, limpando todos os poros do mármore.
Nenhum deles acordou nada, mas olham um para o outro e têm a mais longa conversa de sempre sem mexerem os lábios.
Passando os pesados portões, quase de olhos fechados sabiam o caminho até à casa que procuravam, apenas os mantendo abertos pelo trilho sinuoso debaixo dos pés, que pedia que nele não tropessassem, não fosse estar aberto algum buraco, daqueles de sete palmos, sítio perigoso para se cair, este.
Chegaram. A casa é baixinha, preta, de inscrições nas paredes e outros dizeres. Memorial.
Não se ouve nada, a não ser o vento que passeia por ali, despentando flores, sacudindo a água das poças, arrepiando uma ou outra cabeça escondida no intervalo de outras casinhas que por lá se amontoam. Silêncio e nada.
Olham uns para os outros. A velha figura nada diz, o vazio come-lhe as palavras. Os outros, os que são parecidos, olham também.
E num gesto repentino, um deles pega na vassoura velha, enquanto o outro vai buscar um balde com água. E sem nada acordarem, lavam e esfregam e limpam a casinha. E a velha continua a olhar, sem nada dizer, o que é que pode haver para dizer, limpar é gesto de vivência, os vivos limpam à sua volta para poderem viver, os mortos limpam-nos os vivos, que já nada mais há a fazer, ao menos sempre os vivos mantêm a ilusão de que sobra um último gesto, são coisas da vida, e da morte, porque não, tratar os que já não existem como se fosse seres deste mundo, é assim que se mantém viva a memória, ou o que seja, ao menos que não se passe a eternidade numa casinha feita de teias de aranha e outras sujidades.
Nenhum deles acordou o que que que fosse, e mesmo assim, sincronizados como bailarinos, não deixando passar poeira alguma, limpando todos os poros do mármore.
Nenhum deles acordou nada, mas olham um para o outro e têm a mais longa conversa de sempre sem mexerem os lábios.
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