Parece que o inverno deu cabo dos neurónios das pessoas que habitam nesta bela terra à beira mar plantada.
Na última semana, só se tem ouvido falar de proliferação de ideias agressivas e atentatórias da democracia e da sociedade livre em geral.
Entrevistas a um nazi, criminoso condenado como mero "autor de declarações polémicas" num espaço sem direito ao contraditório e sem confrontação.
Políticos (?) que apelam à intolerância e à maldade nos seus eleitores, ao colocarem cartazes perguntando porque recebem alguns remunerações se "não fazem nada".
Psicólogos religiosos que organizam "curas" para a homossexualidade, formando autênticas seitas, muito ao estilo "american idiot".
O que é isto?
O que vem a ser isto?
Que raio de está a passar?
Onde é que andam todos com a cabeça?
Felizmente, ainda há vozes, e muitas, que se levantam contra esta proliferação de ignorância, intolerância, violência, falta de sentido cívico e falta de sensibilidade democrática.
No entanto, não é de ignorar estas manifestações, assobiando para o lado, fingindo que o populismo e a extrema-direita não chegam cá e que, portanto, não é problema nosso nem temos de facto motivos para nos preocuparmos com estas coisas, que estão lá bem longe.
Não estão.
Estão aqui, mesmo ao lado, à espreita, à espera de todos os silêncios e de todos os assobios para o lado para se infiltrarem, para obliterarem a tolerância e a sã convivência social, prontas para destruírem o que levou 44 anos a erguer. Porque é tão mais fácil ceder ao fácil, ao rápido e à prontidão de culpar os outros, os mais pequenos, os excluídos, pelos problemas estruturais da sociedade, ao invés de pensar e lutar para alterar o que possa estar errado. Porque é tão mais fácil debitar opiniões infundadas, factos falsos e rumores do que parar para pensar pela própria cabeça. Mas porque, essencialmente, é mais fácil querer obrigar os outros a viverem como queremos do que abrir a mente e colocar-se no lugar de outrem, sendo tolerante e inclusivo.
É preciso estar atento, denunciar, fazer ouvir uma voz de razoabilidade acima de toda a estupidez fácil, bacoca e inverdadeira.
É preciso não assobiar para o lado, indignar-se.
É preciso.
Sob pena de, um dia destes, isso voltar a não nos ser permitido.
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