Não contentes com o facto não haver ninguém para passar a vida na rua a fazer coisas que os outros não querem fazer, arranjou-se uma estagiária para o estaminé.
Estagiária é como quem diz, uma moça que, desgraçada, está a tentar acabar o curso na faculdade e vem para aqui fazer uma perninha.
Perninha é como quem diz ajuda das grandes, que esta gente é toda barriguda (como se diz na minha terra) e não quer andar a gastar solas dos sapatos na rua a saltar de conservatória em conservatória, de serviço de finanças em serviço de finanças, de SEF em SEF ou de uma coisa qualquer quando lá pode ir a criadagem.
Desta vez, criadagem não é como quem diz, é mesmo literal, porque eu bem oiço a pobre criatura a destruir quilos de papel na sala ao lado da minha.
Ou então, não a vejo de todo e já sei que está na rua em serviço.
Portanto, foi para isto que se contratou uma estagiária, para destruir papel e andar à chapa do sol a correr de um lado para o outro a pedir mais papel nas repartições competentes.
A velha que em mim habita tem vontade de dizer, olha que coisa, também tu nos primeiros anos não fazias mais nada senão andar na rua a fazer os recados dos outros.
Ao que responde a jovem que também cá mora, e que felicidade é ver que as coisas não melhoram nem evoluem nada ao fim de quase 10 anos.
E entristece-me deveras ver a gaiata (sim, quem nasce em 1995 não tem direito a outra qualificação) a ser escravizada, enquanto nós assistimos, como os carrascos dela.
Foi aqui que vim parar.
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