Dias seguintes ao Natal.
Ninguém no escritório, fora ela e a miúda.
Toca o telefone. Como não está mais ninguém no estaminé, ela atende.
- Bom dia, o meu nome é X. Sou advogado estagiário.
Pois, queres vir para aqui estagiar, não é? - pensa ela - Era só o que me faltava agora ...
Sem ouvir o que ela tem vontade de dizer, ele continua: vou ter exame nos primeiros dias de Janeiro. Tenho uma dúvida gigante, estou mesmo aflito, preciso de ajuda. A lei nº 62/2013, da organização do sistema judiciário, já entrou em vigor? Por favor, ajude-me, estou desesperado, não sei responder, nem que legislação levar para o exame. Achei que vocês, que têm tanta experiência, poderiam saber responder a isto...
Ela olha para o telefone, tira o auscultador do ouvido, tira a cera que lá está e volta a colocá-lo na orelha.
- Isto é alguma brincadeira?
- Não, não! É mesmo a sério! Ajude-me, por favor!
E ela responde. E acrescenta a dica de que o Dr. Google seria totalmente capaz de responder aos seus anseios.
- Oh muito obrigado! Eu sabia que um advogado a sério seria capaz de me ajudar! Muito obrigado!
- Boas festas para si também.
Desliga o telefone. Parece que acabou de passar o TGV na sala.
Será isto um sinal do fim dos tempos?
Diz a miúda: Vais para o céu, rapariga. Ajudaste uma pessoa que precisava. Essa é a compensação, pá!
Realmente, as novas gerações são muito melhores que a minha.
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