Contrariamente à maioria dos seres do sexo feminino, a minha pessoa odeia ir às compras com a progenitora.
Não se trata, porém, de um simples odiar; é algo que me revolve as entradas e me deixa à beira de um ataque de ímpetos assassinos.
Pois que a minha cota é uma óptima pessoa e melhor mãe não haverá, no entanto, no que toca à sua faceta de companheira de compras, com a graça do senhor, não há nada piorzinho que aquela mulher.
Insiste sempre em passear-se pelas mesmas lojas, aquelas que estavam na moda em 1995, insistindo também em gostar de trapos que estariam na moda no mesmo período de tempo, isto quando não lhe dá para regressar, em plena glória, à bela época dos anos 80, década em que, comprovadamente, a humanidade se vestiu pior.
Aliado a estas estranhas tendências, ainda há o facto de parecer que a senhora perde o tino quando entra em qualquer superfície comercial e toca de andar sempre à volta do mesmo expositor, escolhendo minuciosamente todas as pecinhas de roupa e esquecendo-se de vasculhar o resto da loja.
Não é incomum sair de uma loja com a sensação de que agora eles têm muito pouca coisa à venda. Porque será ... ?
Fossem só estes os problemas de embarcar numa sessão de compras com a minha velhota, estavamos todos muito bem. A questão é que a senhora gosta, ainda, e vá-se lá saber porquê, de escolher a roupa que visto, e de mandar uns bitaitezinhos sobre combinações possíveis de peças de vestuário.
Já para não falar naquele hábito estupido e profundamente embaraçoso de gritar da outra ponta de loja, a abanar um qualquer trapo parecido com as cuecas da minha tetra-avó, Ó Diligentia, vê lá esta, filha!Vezes as há que estou mesmo à espera que ela me apareça com um vestidinho de folhos e um lacinho para a cabeça, com aquele ar inocente, a perguntar se gosto...
Tudo aquilo a que acho graça e olho com interesse, não presta, está fora de moda, fica-me mal, fica apertado ou largo ou caído ou outra coisa qualquer. Nunca nada serve.
O pior de tudo é ter que inventar desculpas para não ter que sair de casa para fazer compras com ela. Já tentei de tudo, até a verdade; ficou ofendida por cinco segundos para depois perceber que a melhor forma de se vingar por ter uma filha desnaturada que não gosta de fazer compras com a mãe é fazer questão de ir com ela lamber montras e ser parte, com ela, em contratos de compra e venda.
Sorte a dela, azar o meu, já se vê.
Esperto é o meu pai, que não se mete nestas andanças.
Já tentei que fosse connosco, podia ser que sempre a distraísse e me deixasse fazer as minhas aquisições à vontade, mas o estupor do velho esquiva-se sempre.
Faz aquele sorrisinho irónico e pega no primeiro jornal que estiver à mão e, enquanto desaparece atrás dele, sussurra: Para veres o que eu passo quando vou sozinho com ela às compras.
Sou uma filha desnaturada, já sei, vergonha de quem me pariu, ingrata que não dá valor a nada.
Sim, já conheço o discurso.
Discurso esse provavelmente inventado por uma mãe que tinha uma filha que preferia ir às compras sozinha, há muitos, muitos séculos trás.
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