Bem haja ao senhor dos caracolinhos desalinhados que desbravou os caminhos da ignorância dos cérebros virgens em matéria de situações jurídicas internacionais.
Bem haja ao senhor dos caracolinhos que imiscuiu o seu nariz descomunal nas vidas de quem tinha a paz em seus corações.
Bem haja ao dito senhor, de olhos brilhantes de maldade, que rejubila de cada vez que compreende que quem para ele olha nada percebe do que é dito.
Oh Paulita dos caracóis desalinhados, como era bom que nunca os teus passos tivessem cruzado o meu caminho.
Como seria esplendorosa a estrada caminhada se não viesses também... trouxeste, quais ventos de tempestade, a boa da norma de conflito, toda a sua teoria, toda a sua devolução e referência material, as sociedades, a capacidade, a qualificação. E tudo isto ao mesmo tempo. E o que mais houver. Mais as convenções e os regulamentos. E porquê? Com que propósito? Para que serve? Para que serves tu, afinal? Para passeares o teu olhar cheio de ódio pelos que te ouvem? Para te encheres de felicidade quando a ignorância, sempre presente, mostra todos os seus prismas nas nossas cabeças? Para onde me guias tu, afinal?
Bem haja a senhora de boa vontade que com bonequinhos coloridos pretende levar a bom porto uma barcaça cheia de porquinhos cor de rosa, para o sacrifício.
Bem haja a senhora que não gosta que se roam as cartilagens das extremidades superiores, nem que se desalojem símios da cavidades nasais por forma a prestar a máxima atenção ao princípio da harmonia de julgados.
Bem haja a querida senhora que guia todos os leprosos à agua sagrada da cura e da salvação internacional.
Querida senhora, que em maldade e desprezo pelos porquinhos bate todos os pontos da Paulinha Nariguda, capitã do navio frontal de uma imensa e mortal frota, que se prepara para apontar e lançar canhões à cidade sitiada. Senhora da norma de conflito, que faz com que as teorias do direito civil de todo o mundo pareçam uma brincadeira de crianças pequenas. Senhora do Mal, que trouxestes o DIP para o nosso seio imaculado, manchando-o de terror e imundice.
Porquê? Porquê eu? Porquê agora? Porquê neste momento, porque só agora, no fim, no término, no derradeiro momento? Porquê? Porquê, Paulinha?
Porquê o tiro no escuro, porquê a facada, não nas costas, sempre se sabia que algum dia haveria de chegar esta hora, mas no coração, faca afiada, aguçada como nenhuma outra, dilacera pele, músculos e tendões até chegar ao pontinho mágico, também ele atingido, que extingue a vida.
Porquê, Paulita, porquê?
Dar-te-ia todo o meu cabelo, para que substituísses esses cachos de melena descorados, dava-te toda a minha cor por uma resposta.
Responde-me! Fala comigo, seu animal, responde-me!
Não sei o que escrevi, não me lembro do que sabia, escrevi de olhos fechados, à espera que alguém os abrisse e me mostrasse o que fazer. Não sei a resposta, e perco-me nas linhas cheias de tinta, mascadas pelas minhas mãos, que seguram na caneta e a fazem deslizar febrilmente. Não sei responder.
A capacidade normalmente está incluída na noção mais ampla de estatuto pessoal. O 47º tem alguma a coisa a ver com o estatuto real. O 16º é a regra geral de referência material excepcionada pelo 17º e pelo 18º. Eventualmente pelo 19º, quando não haja reenvio. O 20º é para ordenamentos jurídicos demasiado complexos para se encaixarem nas regras normais.
Porquê, Paula? Responde-me.
É por ser burra? É por não estudar? É por não saber, de todo, as coisas de raiz?
Porque me odeias tu, cónego do demónio?
Não sei a resposta, nunca a soube, nunca a tive. E agora, que escrevo eu? Que mais escreverei quando me faltarem as invenções? Que mais escreverei quando não mais puder esconder que não sei a resposta? Não sei.
Bem vindos, senhoras e senhores, ao admirável mundo sempre novo do DIP, o único rico em sais minerais e normas de conflito fresquinhas.
Bem vindos, caros amigos, a uma viagem sem fim pelo coração palpitante do direito. Viagem por uma via nunca antes viajada. Uma viagem inesquecível, que ficará para sempre gravada nas peles e almas de todos. Memorizem todos os momentos, fixem caminhos, decorem pontos de referência. Lembrem-se de tudo o que aprenderam. Só para não morrerem estúpidos, não vale a pena.
Porque não há regresso do mundo do DIP. É uma viagem só de ida. Não há como escapar, a morte avizinha-se. E todos, pelos trilhos enlameados dos esgotos, caminhamos de mãos dadas, todos em fila, os lindos porquinhos cor de rosa, guiados pela Senhora do Mal e pelo senhor dos belos caracóis. Caminham sem parar, sem descanso, sem alimento. Porque ainda há o direito real, o sucessório e o de propriedade intelectual, e as sentenças estrangeiras que necessitam de reconhecimento. E o 16º é a regra geral, enquanto 17º e o 18º o excepcionam. Forein court theory.
E os dois seres guiadores de almas já só levam um porquinho para o sacrifício. Os outros nunca chegaram a escolher o caminho da perdição.
Porquê, Paula?
Bem vindos ao mundo do DIP. Admirável.
Tudo isto existe.
É triste. É DIP.
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