quinta-feira, 18 de abril de 2019

Meanwhile in Ergástulo - Parte Vigésima

Ao velho patrão deu-lhe uma ventania na carapuça e resolveu presentear o proletariado com um dia de folga, à escolha entre a segunda-feira de Páscoa e a sexta-feira seguinte, que calha entre um feriado e o fim de semana. Sem desarmonias quanto à escolha, feita entre colegas, está tudo a esfregar as mãozinhas de contentamento. Afinal, houve um progresso significativo do ano passado para este: no ano anterior, foi-nos dada a tarde de quinta-feira santa, com má vontade e trombas até ao chão. Este ano, desfrutamos de um dia INTEIRO à nossa escolha para borregarmos alegremente!


Óptimo.

Excelente.

Maravilhoso.

Fantástico.

Para lá de estupendo. 


Não que me esteja a queixar, nem nada que se pareça (estou, pois).
Quem de dera que todos os anos se lembrasse de ser generoso como está agora a ser.
Porém, há que ser pragmático.

Nada está a funcionar hoje.

Nada.

Absolutamente nada.

Nem instituições públicas ou privadas.

Ninguém trabalha nesta cidade.

Neste edifício, somos os únicos que cá estamos.


Custa muito mais ter esta espelunca a funcionar, com os gastos de água e energia, do que fechar as portas - para todos - um mísero dia.

É que, embora o pessoal seja exímio na arte de disfarçar e fingir que tem imenso trabalho, todos sabemos que não há grande coisa para fazer - basta ver a facilidade e a descontração com que toda a gente se encosta aos umbrais das portas das salas uns dos outros, a conversar sobre a falta de gasolina e os folares da Páscoa.
Portanto, estamos a consumir recursos a fingir que trabalhamos, o que não deixa de ser cómico, é evidente, mas também é só parvo.



Moral da história: O QUE É QUE ESTAMOS TODOS AQUI A FAZER, CARALH*?



Foi aqui que vim parar. 

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