terça-feira, 5 de junho de 2018

Detesto andar de táxi, muito porque odeio taxistas.
Acho que são, modo geral, uns animais a conduzir, que acham que as regras de trânsito não se aplicam às suas pessoas e que levam o couro e o cabelo por uma viagem de carro.

Mas também, é preciso dizê-lo com a maior das honestidades, e quem me conhece já o sabe, odeio conversa de merda.
Odeio.
Mesmo.
Fervorosamente.

Pensar que tenho que ir a um lado qualquer e aguentar conversa que não acrescenta nada, que não serve para nada e basicamente só serve para consumir oxigénio é coisa para me deixar mal disposta um dia inteiro. Coisas como  festas da terra, ou ir cortar o cabelo, andar de táxi ou estar na paragem do autocarro com uma velha tagarela, ou seja, todas situações que oferecem uma panóplia de conversas de merda que não me interessam ter, são suficientes para não fazer estas coisas. Tipo, tenho aqui umas certidões que preciso de ir buscar à conservatória, mas como tenho de ir de autocarro e o autocarro está cheio de velhas, não tenho ido. Não vou às festas da terra porque 1) não gosto de procissões, 2) as putas das velhas vêm sempre perguntar se não estou mais forte. Só corto o cabelo duas vezes por ano, para não ter que levar com a conversa de merda das cabeleireiras, que ora tagarelam alegremente sobre a vida dos outros ou se põem a descrever o que acontece às suas pachachas depois de terem filhos. Não ando de táxi porque não tenho paciência para conversa de gente que cheia a estofos de pele de vaca.


Ora, ontem precisei de andar de táxi. Não só porque estava meio mundo no metro por causa da greve e, por causa disso, atrasei-me, mas principalmente porque ainda tinha que andar a pé dois quilómetros à chuva. Ora, não demoro uma hora a arranjar-me de manhã para chegar ao pé das pessoas a cheirar a sovaco e com o cabelo a parecer um vendaval em movimento, portanto lá fui.

E tanta conversa de merda que ouvi, senhores. Tanta e com tanta qualidade. Devia ter gravado.

 - A menina sabe onde é que está?
 - Aaaaaaa... na rotunda do Relógio?
 - Não, não.
 - Não? 
 - Não. A menina está dentro do táxi.

Coisas como esta, estão a ver?

 - A menina sabe qual é o maior toldo do mundo?
 - Aaaaaa, não, não sei.
 - É o vestido da mulher.
 - Ah.
 - Sabe porquê?
 - Não, mas acho que o senhor me vai dizer.
 - Pois vou. Porque é o único que esconde uma leitaria, uma padaria e uma fábrica de fazer meninos.

Nesta altura, tive um avc e não me recordo bem do que se passou a seguir.

 - Então e a menina vai para onde?
 - Vou para o Hospital X.
 - Ah, está a sentir-se mal?
 - Não.
 - Vai ao médico?
 - Não.
 - Vai à pediatria?
 - Não.
 - Vai àquele médico dos bebés?
 - Não.
 - Ah... então vai trabalhar?
 - Sim.
 - Ah, vai a uma reunião com médicos, é isso? Olhe que eles atrasam-se sempre, não vale a pena ir com pressa. Também é médica, a menina?
 - Não, sou advogada.
 - AH!

Passou o resto do trajecto à procura no telemóvel de uma fotografia de um advogado que era amigo dele e que o tinha safado de uma série de coisas ao longo da vida, tanto que os últimos 900 metros do percurso foram feitos com recurso a subidas de passeios e derrube de pinos na estrada, nas barbas da polícia.

É disto que me calha.
Conversa de merda a rodos.
Conversa sem conteúdo nenhum, na qual sou obrigada a participar sem querer e sem ter coragem para atirar um calhau à cabeça do falador.

Mas porquê eu, senhores?!

Sem comentários: