Falar só por falar é fácil, não custa nada e faz um brilharete tremendo.
Uma coisa parece-nos mal, soa mal e cheira ligeiramente mal à distância e toca de falar horrivelmente sobre a tal coisa.
É fácil, mas também extremamente perigoso.
É assim que nascem os preconceitos e as ideias mais parvas de sempre. Do falar sem conhecer e julgar todos os livros pelas suas odiosas capas. É feio, muito feio.
No entanto, na minha pessoa, coisas as há que não resultam tão bem com esta premissa.
Isto porque há um elemento em mim, seja instinto, seja estupidez, que me permite de antemão e sem nada saber sobre uma coisa dizer, com toda a propriedade, não gosto.
Ainda antes de ler, já sabia de antemão que não gostava de Nicholas Sparks.
Vi um único filme baseado numa obra escrita por ele (As Palavras que Nunca te Direi) e jurei para nunca mais; ainda nem tinha chegado a meio do filme e já estava intoxicada com o cheiro a azeite. Ainda por cima, é só tragédia e a história acaba mal, mal, mal, o que só dá vontade não só de chorar como de cortar os pulsos por se ter perdido tempo de vida a ver semelhante merda.
Muitas pessoas do meu trato, no entanto, leem frequentemente as obras que este autor publica, são seguidores religiosos, vão ao cinema ver a adaptação, ficam muito contentinhos a ler e a ver a história. Apesar de me fazer repensar muitas vezes nas relações de amizade que tenho, respeito o gosto que cultivam e, como não me tentam evangelizar para passar gostar, fine by me.
Nunca tinha lido nada de Sparks e era relativamente feliz na minha escolha.
Até há bem pouco tempo em que, desafortunadamente, fiquei sem nada para ler e fui desencantar este livro a uma prateleira poeirenta, há muito esquecida.
Não é que tenha algum prazer em afirmar aos quatro ventos que tenho sempre razão (... ok, tenho um bocadinho, mas é pouco ...) mas já sabia que não ia gostar.
E não me enganei.
Detestei.
Mesmo.
Fiz um enorme esforço, intelectual e até mesmo físico, para conseguir levar até ao fim a empreitada de leitura. Há anos que não fazia um tão grande esforço para não atirar um livro pela janela fora e atentem que estamos a falar da mesma pessoa que, voluntariamente e muito antes de ser leitura obrigatória a português, leu Os Maias, Uma Família Inglesa e A Morgadinha dos Canaviais. Portanto, tenho alguma resistência a literatura exasperante.
Mas isto é demais. É mau demais, triste demais, pobre demais, estúpido demais, lamechas demais.
Uma história sem pés nem cabeça, um moralismo encapotado a meter dó, só com frases feitas, verdadeiramente medonhas e arrepiantes.
Há sempre uma tragédia qualquer nas histórias de Sparks: ou têm cancro, ou são órfãos, ou a família não gosta deles, ou morrem de acidentes de viação.
Nesta história, há de tudo um pouco, portanto já conseguem ver a qualidade da obra.
Esperava, não obstante, que existissem descrições de fazedura de amor terno e doce, ou filmi di fóda, como costumo dizer várias vezes ao dia, como não houvesse amanhã, já que é isso que salta à vista em filmes que tiveram por base a obra deste senhor, mas nada. Nada de nada.
Puta que pariu esta merda, a sério.
Nem tuuuuudo é mau, há que dizê-lo sem medo. O retrato da perda e do desgosto é francamente boa e a última carta que o personagem Ira escreve à mulher já falecida é verdadeiramente enternecedora. Fora isso, uma bosta.
Ao pesquisar na web a imagem supra, dei com o trailer (vão, portanto, fazer mais uns milhões com uma história de merda e encher as cabeças das pessoas de póneis e confettis) e, já aí, dá para perceber que até nas histórias parvas e insípidas aldrabam o guião e que nada, mas mesmo nada corresponde à realidade literária.
Um nojo, portanto.
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