Uma das (muitas, é verdade) coisas boas de se morar na Margem Sul é que aqui o 25 de Abril é uma festa a sério.
Aqui, ninguém se limita a ficar em casa só porque é feriado e ninguém tem de ir trabalhar, ninguém se limita a ouvir o Grândola Vila Morena ou a ver as cerimónias comemorativas na televisão.
Aqui, as pessoas jantam a correr para vir para a rua ver os concertos, comer uma fartura, ver o fogo de artifício. Aqui, as pessoas trazem a família toda para ver as luzes e ouvir a música.
Aqui, corta-se o trânsito de metade da cidade para que não haja carros perto do espectáculo, e os mitras e mitrinhas vão de metro ver o Sérgio Godinho e o Boss AC, ou amontoam-se num autocarro qualquer para chegar a horas.
Aqui, as pessoas trauteiam as músicas que sabem de cor e ficam à espera de, no fim, mesmo antes do fogo de artifício, ver todos os vereadores da Câmara Municipal subir ao palco e, principalmente, esperam para ouvir o discurso da sua querida Presidente da Câmara, que fez um discurso verdadeiramente revolucionário, apelando ao Povo para sair à rua e revoltar-se de novo.
Porém, a senhora Presidente, que é muito simpática e tem um discurso amorosamente comunista, não obstante a sua voz horrível, demorou tanto tempo a apelar à Revolta Popular que o Povão começou a fartar-se e vá de assobiar forte e feio, enquanto lhe fazia manguitos.
Tudo porque o Seixal, essa terra mesmo ao lado do Arco Ribeirinho do Tejo (as coisas que eu sei...) lançou o fogo de artifício para o ar religiosamente à meia-noite, coisa que se via da praça, o que não pode ser, Almada é que é A cidade da Margem Sul, não pode ficar atrás de coisa alguma.
Aqui, o pessoal gosta da Festa dos Cravos. Sai à rua, contente, e volta para casa feliz porque viu uma coisa diferente. Aqui, aliás, é sempre diferente.
Bom 25 de Abril para todos.
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