Entretanto, o tempo continua a passar nesta porcaria de terra, em que todos os outros são tão bons mas o que cá mora é sempre uma redonda merda.
Não há alento que me valha, pelo que só me resta enrolar e olhar no vazio, tentando não chorar.
Dos Incidentes, Pareceres e Vicissitudes várias. Porque "Quando a ralé se põe a pensar, está tudo perdido", lá dizia Voltaire...
Entretanto, o tempo continua a passar nesta porcaria de terra, em que todos os outros são tão bons mas o que cá mora é sempre uma redonda merda.
Não há alento que me valha, pelo que só me resta enrolar e olhar no vazio, tentando não chorar.
Já estava cá a fazer falta, não era?
Apesar de todos os componentes de Eurovisão estarem presentes (música pop fácil, triunvirato mamas-cu-pernas em quase todas as canções e azeite q.b.), até foi dos anos em que a música teve mais qualidade. Consegui reunir numa lista de Spotify 11 músicas muito jeitosas e audíveis sem embaraço por pertencerem a este tipo de certame (again, linguagem de feira de gado a ganhar terreno), o que, tendo em conta a temática, é dizer bastante.
Não me apela por aí além a música vencedora. Talvez seja por estar farta de ouvir bandas do género desde há décadas, ou de ter aturado milhentas vezes aquelas atitudes de bad boy em vocalistas armados em parvinhos (como é claramente o caso deste; que veio a ser aquela simulação de snifanço?!) ou de ter ouvido aquele chavão de rock n'roll neves dies em todos os álbuns e concertos alguma vez dados por bandas que se acham a última Coca-Cola do deserto. Não traz nada de novo, mas podia ser pior, é verdade.
A minha preferida era esta, apesar de não ter qualquer tipo de ilusões quanto a poder vencer:
A Ucrânia estava poderosíssima aqui (seguida de perto pela Lituânia, pela Bélgica e pela Rússia):
Nós estivemos muitíssimo bem e tivemos direito a uma votação do público miserável que foi tremendamente injusta. Cheios de graça e de talento.
No entanto, acho que deveria verdadeiramente ter ganho esta:
Não porque a música fosse por aí além de boa (é pavorosa), mas o rapaz é fofo que só ele e merecia mais atenção.
Para o ano, em Itália, então.
Sempre tive em mim a firme convicção que o mês de janeiro, fosse de que ano fosse, era sempre o mês mais difícil, mais comprido e mais horrível de todos. Era sempre neste mês que aconteciam as piores coisas, ou que faltava sempre alguma coisa, ou que só havia chuva e vento, ou em que não se via progresso em nada, ou em que simplesmente era o mês em que a esperança se deitava para morrer.
Havia sempre alguma coisa no mês de janeiro que apelava ao lado pior, não só meu, mas de toda a gente, que fazia com que fossem 31 dias para esquecer, que contavam como se fossem 350. O mês de janeiro deste ano de 2021 foi talvez, o piorzinho de que há memória em termos gerais.
No entanto, o mês de maio, suplantou-o sobremaneira.
Foi um mês de merda. De merda. De muita merda.
Merda sobretudo para mim. Que fui, em todo o meu esplendor, uma merda.
Nada correu bem, nada fiz de bom. Limitei-me a saltar de porcaria em porcaria, tentando não morrer de ataque cardíaco ou de ansiedade aguda, à espera do próximo pântano onde me enfiar. E, caraças, havia sempre mais um pântano.
Há muito tempo que não deixava que a estupidez me governasse de maneira tão autoritária. Não houve espaço para a calma e tranquilidade que decisões importantes pedem. Não houve inteligência para antever os percalços que poderiam existir. Não houve aceitação e paz para lidar com as consequências.
Ao invés, só houve estupidez, amadorismo, incompetência, precipitação e intempérie. O que só veio provar que sou tudo isto e mais um par de botas.
Se posso dizer que, ao menos, aprendi alguma coisa com isto? Quem me dera. E se à partida, a resposta é positiva, este mês veio mostrar-me que é só uma questão de tempo até voltar a suceder tudo outra vez e a aprendizagem deixar de existir.
Deve ser por isso que tenho a bela sensação que o mês de Junho será outro igual a maio: a mesma merda.
Há muitos e variados problemas que o patronato tem com os seus assalariados.
Um deles deriva do tempo de descanso que essas almas teimam em ter. Principalmente quando deriva do proprio patronato habitualmente dar tempo extra de descanso, e aqui estou unicamente a referir-se à quinta-feira santa, dia em que, nesta casa, nunca se trabalhou da parte da tarde, dia em que inclusivamente foi dado por inteiro em anos anteriores, dia em que tradicionalmente anda tudo à balda.
Como este ano não se falou no assunto, mas as pessoas precisam de governar as suas vidas e de saber, com um pouco mais que uma hora de antecedência que têm dias ou tardes livres, até porque, que merda, as escolas teimam em fechar a partir das 14h e os miúdos não podem ficar à sua sorte por aí, houve necessidade, por isso, de perguntar.
O escândalo.
O horror.
A tragédia.
O desplante desta ralé.
Proletários de merda. Ainda por cima, pobres.
Como se atrevem a mendigar?
E assim fica um ambiente estranho e pesado, com muitos olhares assassinos à mistura, com comunicados em surdina às mais altas patentes, para prevenir um motim dos subalternos e mantê-los na ordem, que esta gente só aprende com um chicote na mão.
No fim, a culpa ainda é toda nossa, que somos uns preguiçosos que não queremos trabalhar. Temos que suportar as bocas ordinárias e as reprimendas, porque nos atrevemos a exigir regalias. Ainda temos que ouvir que não temos contratos de trabalho, somos prestadores de serviços e direitos são coisas que não nos assistem. Ainda temos que suportar policiamento extra, do trabalho e da assiduidade, porque os corredores são agora patrulhados por um velho de merda, a quem só falta ter uma chibata na mão para aplicar corretivos nos escravos.
Não há melhoras.
Nenhumas.
Breve pausa para se tomar conhecimento que tenho um patronato que considera que os Médicos pela Verdade foram vítimas do sistema ditatorial em que vivemos, que pune as pessoas por delito de opinião, já que essas pobres criaturas apenas de limitaram a discordar dos especialistas que fazem as regras pelas quais ultimamente, por força das circunstâncias, temos que nos reger.
Breve pausa silenciosa para se interiorizar o supra exposto.
Breve pausa para contemplar o facto de ter sido a este lugar que a minha pessoa veio parar.
Sendo, já, oficial que a terra tremeu em Lisboa, é seguro dizer que senti o abalo e não gostei lá muito.
Que é como quem diz, apanhei um susto da porra.
Uma pessoa está descansada e sente uma vibração a partir do chão que abana tudo, como se fosse uma corrente elétrica de alta voltagem a percorrer os átomos dos objetos. Estando de costas para a janela, nem vi se os pássaros levantaram voo segundos antes, como é suposto acontecer. E depois, tão depressa como começou, acabou. Dois segundos, se tanto.
Olhei em volta, esperando ouvir comentários, gritos, suspiros, coisas várias.
Nada. Aparentemente os meus colegas são imunes aos tremeliques. Ainda passei por demente até começarem a surgir mensagens, relatos e notícias a espalharem-se como urticária.
Este foi o segundo terramoto detetado pela minha pessoa. O primeiro não senti, só ouvi (coisa mais estranha, já sei). Este não o ouvi, até porque, como é sabido, sou surda que nem uma porta, mas senti a força do fenómeno.
Desde que sou gente que oiço dizer que, qualquer dia, acontece um outro terramoto nesta cidade do demo, igual ao de 1755. Durante anos, segundo parece, fizeram-se planos e estudos e teorias e adaptações da construção que, aparentemente, ninguém se lembra e ninguém põe em prática. Mais vezes se fazem simulacros de incêndios do que de terramotos. Cada vez que há um sismo, volta-se invariavelmente a falar nos planos e nos cuidados, para depois se acalmarem os ânimos e voltar-se a esquecer do assunto. O que não deixa de ser assustador.
Enfim, espuma dos dias até ao próximo abalo. Que espero não sentir.
Quando, em conversa com um Colega, me pergunta se sou casada, se tenho filhos e porque não tenho mais porque a condição da mulher é ser mãe, porque esse é o chamamento da Mãe Natureza, não apraz dizer mais nada senão mandar passear para o cesto da gávea.
E, não contente com a brincadeira, ainda me manda às trombas, como se estivesse a dizer a coisa mais básica do mundo, que as mulheres querem-se doces porque para guerrear estão cá os homens, enquanto me lançava olhares gulosos a todos os cantos do meu decote que, por acaso estava tapado até ao pescoço, que eu sou pessoa friorenta.
Obviamente que este é um exemplo triste e, gosto de pensar, isolado.
No entanto, todos os dias há sempre alguém, normalmente mulheres, que nos dias de hoje, ainda têm histórias destas para contar, que todos os dias têm de ouvir este tipo de barbaridades bacocas em muitas circunstâncias da vida.
Portanto, será exemplo isolado mas não inexistente.
Ultimamente tenho ouvido muitas criaturas que não devem ser deste mundo ou, se o são, devem passar o tempo sob o efeito de substâncias psicotrópicas, dizer que já não se pode dizer nada, que é uma ditadura, que a ideologia de género é não-sei-quê, que as feministas são não-sei-que-mais, e espanta-me como é que ainda conseguem ser, para além de egoístas, acéfalos.
Porque somente uma pessoa acéfala pode pensar em verbalizar esta postura de desculpabilização de agressões psicológicas quando ainda há quem se sinta confortável em dizer estas coisas a outras pessoas, julgando-as inferiores pelo seu género, sem qualquer pejo nem receio pelas consequências.
Se há quem ache que esta conduta se admite, lamento, mas creio-os iguais aos que têm adotam de facto esta conduta como modo de vida, já que com eles são coniventes.
Portanto, puta que pariu esta conversa de merda.
Mais de um ano depois, o regresso.
A ideia era durante o ano de 2020 experimentar outro tipo de escrita, tipo diário, coisa mais íntima, mais profunda, não para partilhar, mas para esconder, pensamentos negros e horripilantes, coisas (ainda mais) chatas e desinteressantes.
Afinal, o ano de 2020 transformou-se numa espiral gigante de porcaria, confinamento e solidão social, pelo que a intimidade e profundidade de escrita que se pretendia acabou atirada para um canto. Não havia mais nada para escrever que não fossem crónicas do encerramento domiciliário, quilos ganhos, longe de todos, longe da vida. Quem é que quer manter um diário assim?
Muitas vezes pensei em abrir o blogger e escrever um ou outro desabafo. Mas, não vislumbrando o propósito, deixei andar. Se este já era um antro de queixume, agora com esta esquizofrenia de pandemia e loucura, até à própria isto haveria de parecer um repositório de tristeza e idiotice. E, por isso, não o fiz.
Aguardei que os primeiros três meses de 2021 não fossem a confirmação da continuidade que 2020 ofereceu. Tive esperança que esta dinâmica tivesse um fim. Não teve. Tive esperança que as soluções fossem chegando, não com a velocidade supersónica, mas de cruzeiro e que se pudesse voltar à vida de antes naturalmente. Não aconteceu.
Durante dois meses, tudo voltou a estagnar, a adormecer, a esmorecer. Todo este tempo pareceu o seu dobro, tamanha a frustração e o desencanto. Claro que foi por um bem maior; mas os bens menores também sofreram.
Como em três meses nada mais se observou que não fosse um 2020 renovado, achei que o queixume estava legitimado novamente - até porque é desporto nacional - e, portanto, estou de volta.
Viva o queixume.
2020, temporada 2.