sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Memória

Neste dia, há precisamente 5 anos atrás, desaparecia um dos pilares da minha existência.

O monumento de uma infância feliz.
O bastião de uma família.
O baluarte de uma geração.

Desde então, recordo constantemente quem perdi, lamentando que não possa ver todos os momentos pelos quais passei ao longo de todo este tempo. Pergunto-me qual seria a sua reacção, o que diria, ao vivenciar ao meu lado tantos marcos importantes que foram sucedendo. Não tenho forma de encontrar resposta, mas gosto de acreditar que ficaria genuinamente feliz por todas as coisas boas que foram sucedendo e que não deixaria de me dar o seu apoio em todas as horas negras.

Ainda carrego em mim toda a tristeza, todo o desespero da perda, toda a saudade não mitigada, todos os dias, todas as horas, em todos os momentos. Não há um único dia que não me lembre Dela, do seu sorriso, do seu cheiro, da sua voz, do seu abraço. A minha vida ficou infinitamente mais pobre, mais cinzenta, mais vazia com a sua partida e não tenho forma de cobrir a cratera que ficou em mim depois da sua partida.

No entanto, depois de todos estes anos, sou capaz de reconhecer o legado imenso que deixou. A educação transmitida aos filhos e netos, os valores e princípios, as memórias que fazem com que viva agora em nós, sobreviventes e também, de outra forma, o meu imenso enxoval, que todos os dias enche a minha casa e me faz recordar aquelas mãos, trabalhando ininterruptamente, para um trabalho perfeito e intemporal. 

Há 5 anos a vida como a conheci terminou. 
Desapareceram com Ela todas as ilusões da infância e nasceram sentimentos que não sabia que se podia ter, sentimentos que ainda não desapareceram e que, desconfio, me vão acompanhar para o resto dos meus dias. Não crer em entidades divinas nem em vida após a morte torna tudo pior, porque nem uma réstia de esperança existe à qual me possa agarrar. 

Agarro-me, sim, à herança imaterial que recebi e que faz com que, mesmo tendo cessado de existir, continue sempre presente, enquanto houver memória. 

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