Quando era miúda, mesmo muito miúda, volta e meia, era hábito oferecerem-me aqueles caderninhos foleiros, de páginas com cheirinho a papel higiénico de hotel de 5 estrelas, com cadeado dourado e respectiva chave minúscula, folhinhas coloridas, em rosa e azul desmaiado, a que gostavam de chamar diário.
Esperavam que escrevesse ali o meu dia-a-dia, as minhas aventuras e desventuras, as peripécias de todos os dias.
Ora, o que é que uma miúdinha de 5 ou 6 anos tinha para contar além de fui à escola, brinquei, fiz os trabalhos de casa, levei um tabefe porque me portei mal?
Já naquela altura mandava bardamerda àquilo que esperavam de mim e fazia o que me apetecia. Uma mania que nunca me passou, diga-se.
Aproveitava aquelas folhas ranhosas para escrever as minhas histórias, não as reais, que essas não tinham graça nenhuma; aquelas que imaginava, aquelas que construia só com um fio de pensamento. Escrevinhei diários inteirinhos com histórias de aventuras. Não sei o que foi feito daqueles diários, mas devia ser giro voltar a encontrá-los. Para medir a minha própria idiotice a 20 anos de distância.
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