Ele há fases e fases na vida de uma pessoa.
Fases boas, fases em que tudo irrita, fases em que tudo corre mal, fases estranhas, fases péssimas, fases de perdas, fases felizes, fases maravilhosas, fases estúpidas.
Eventualmente tudo passa. Por isso é que são fases.
Por estes lados, reina uma fase em que a conversa gira toda em volta do mesmo tema e daí não sai. Sempre, a toda a hora, em todos os momentos que me apanham distraída, lá vem a merda da conversa.
E a conversa não é outra senão a do enxoval.
Ora, o enxoval é um aglomerado de tretas têxteis sem serventia alguma que não seja a de atazanar a vida de quem o leva consigo.
Para quem começa uma nova vida, até é capaz de ser alguma coisa que dê jeito; pelo menos, é dinheiro que se poupa. Há tantos tapetes e sofás para comprar, sempre se poupam uns trocos nas toalhas de banho e nos panos de cozinha que não se compram.
Porém, quando o enxoval consiste em coisas que se podem realmente usar e não peças de museu ou objectos arqueológicos, até poderia correr bem e deixar toda a gente feliz.
Não é o caso.
O caso é que se lembraram de fazer enxoval - leia-se, encher três camiões TIR com trapos - com 26 anos de antecedência, no meio dos loucos anos 80, em que tudo era foleiro e com folhos. Tudo tinha rendas e atavios. Tudo tinha laços e picots (whatever that is). Em que tudo era, já para aquela época, completamente ultrapassado.
E teimam, porque sim, e porque tem de ser, que tenho forçosamente que levar tudo comigo para onde quer que vá. Porque parece mal, porque tiveram trabalho, porque fizeram tudo com amor e carinho, porque têm desgosto se afinal aquela para quem tudo aquilo fizeram não passa de uma ingrata que se recusa a pertencer à geração do naperon.
Ora, há mais que fazer, há outras coisas que preocupam um ser. Tipo, como é que se monta um esquentador? Como é que vou arrastar um sofá de três lugares pelas escadas acima até ao segundo andar sem elevador? Como é que raio se monta uma cama? Como é que se liga o tubo do gás à merda do fogão? Como é que o roupeiro cabe no quarto? E todas as perguntas que gente normal e medianamente saudável faz quando se depara com enfiar em 5 divisões o que antes cabia num quarto.
Não. Não senhor.
O que interessa é que tenho que levar toda a trapada que escolheram ao longo de quase 30 anos, sem me consultar, sem me dar cavaco algum, simplesmente limitando-se a encher não sei quantas malas de tretas que sabem perfeitamente que nunca vou usar. Respeitar-me que é bom, nem pensar.
Um qualquer dia da minha triste vida, já tive oportunidade de expressar a teoria de que teria de matar toda a gente para poder guiar a minha própria existência como bem entendesse.
E cada dia que passa tenho mais a certeza de que estou correcta.
Esteja onde estiver.
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