A senhora minha mãe sempre foi uma pessoa fácil no dia das mentiras.
Sempre acreditou piamente em todas as alarvidades que lhe quiseram contar, neste e noutros dias, é preciso dizê-lo.
Sabendo disto, toda a gente fazia pouco dela, como dizia a minha Avó.
Lembro-me daquela vez que o senhor meu pai chegou a casa, muito aflito, e contou-lhe que tinha havido um acidente horrível: um navio de carga tinha embatido contra um dos pilares da Ponte 25 de Abril e a desgraçada da ponte tinha cedido e colapsado.
Imediatamente a minha progenitora leva a mão ao peito, e enche os olhos de lágrimas, cheia de comoção perante tamanha desgraça e miséria que se havia abatido sobre as pessoas afogadas.
Andou de lágrima no canto do olho o dia inteiro, fazendo um zapping frenético à procura de um canal que lhe dissesse o que estava a acontecer. Só ao anoitecer é que, entre risos, o homem da mentira se retractou e disse que a historieta não passava de uma celebração ao 1º de Abril.
A barafunda naquela casa foi indescritível.
Lembro-me, ainda, daquela vez, na altura da entrada em vigor de um dos PEC's do governo de José Sócrates, em que lhe resolvi dizer, por telefone, e sabendo-a num sítio sem acesso a notícias, que havia uma manifestação tremenda em Lisboa, que tinham invadido São Bento e que o governo tinha caído. De imediato, a mulher, muito afoita, ligou logo para o senhor meu pai a contar o evento e a avisá-lo para ter cuidado e não sair do local de trabalho porque deveria tratar-se de outro 25 de Abril que aí vinha. Ouvindo risos do outro lado, apercebeu-se de sua triste figura.
E a barafunda naquela casa foi indescritível.
Já perdi a conta às petas que inventámos para destabilizar aquela senhora.
Cada ano que passa damos voltas e voltas à cabeça, imaginando impossíveis para lhe contar.
A pior parte é que com o passar dos anos também ela se vacinou e já não acredita. Tanto.
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