Quando eu era pequena, ainda andava na escola primária, havia na aldeia uma senhora, a D. Efigénia, a avó de um colega, que o ia levar à escola todos os dias.
A senhora era do norte do país e mesmo depois de longas décadas em terras do sul, continuava com a pronúncia deliciosa com que tinha aprendido a falar. O que, para uma criança de 6 ou 7 anos, era não só estranho como motivo de grande risota.
Às vezes, ainda me lembro da Ti Efigénia, sempre vestida de preto, com um lenço na cabeça, de maçãs do rosto rosadinhas como se tivesse acabado de chegar da taberna, no seu passinho atrofiado que a idade lhe deu, a tentar acompanhar o neto pela estrada principal da povoação até chegar à escola.
Mas o rapaz era endiabrado e gostava de ir a correr até ao destino e deixar a velhota para trás, normalmente para poder andar a fazer aquilo que as avós e mães apelidam de asneiras sem ter ninguém a puxar-lhe as orelhas.
E nessa altura, quando a Ti Efigénia já não conseguia vislumbrar o neto no seu horizonte, abria as goelas e lançava um grito para a atmosfera:
- Ó Marco, naum bás a correr, estapôr de rapaz! Olha que lébas nas bentas!
E eu ria, ria e ia para casa a rir, sem perceber muito bem como é que uma frase tão simples me provocava um ataque de riso tão grande.
Ainda hoje não percebo.
Porém, tendo-me lembrado da velha senhora, já nem sei a que propósito, passei uma manhã inteira com o riso no canto da boca.
Bem haja à Ti Efigénia, que nem sei se ainda vive, mas que me proporciona uma gargalhada com 20 anos de idade.
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