terça-feira, 4 de maio de 2010

Livro de Reclamações

Há coisas que me irritam sobremaneira.

Há coisas que me tiram do sério.

E quanto mais penso nelas mais me apercebo que podia muito bem ter respondido à letra, ter aliviado o peso cerebral que estas situações estúpidas provocam, mas por um motivo desconhecido, decido fazer como se não tivesse ouvido, seguir o meu caminho com menos uma chatice.



O mundo está cheio de gente espertinha que tem a mania que é uma grande peça.

O mundo está a abarrotar de pessoas que acham por bem mandar umas calinadas, à laia de posso dizer tudo o que me apetece que isto é um país livre.

O mundo está cheio das pessoas que acham que podem dizer o que lhes vai na pinha sem que os outros possam ripostar.



A maior parte das vezes, até se safam muito bem; a maioria das pessoas é igualmente parvinha e não quer aborrecimentos, prefere uma vida tranquila, sem desaguisados com os outros, temos que saber viver em sociedade, darmo-nos bem, não é verdade, para que armar confusão por causa de uma coisinha de nada?



Sim, a maior parte das pessoas é assim, e até faz muito bem. Porque a maior parte das pessoas não tem o cérebro permanentemente inflamado e não vê estupidez em todo o lado. Porque a maior parte das pessoas não fica meio ano a pensar naquilo que foi dito, a remoer e a pensar no assunto como se não tivesse mais nada que fazer.



Como diria a minha avó, fui à farmácia aviar uma receita.

E do outro lado estava uma senhora a quem eu devia ter arrancado os olhos à dentada.

Mas não o fiz.

A putinha devia ter achado que eu tinha coagido o médico a passar-me dois cremes impregnados em cortisona, sim, porque eu agora sou uma drogada que gosta de se encher de creme contaminado só pelo divertimento, e ainda se pôs a tecer considerandos sobre o conteúdo da receita, terminado com um trejeito conformado mas cheio de dúvidas. Não me compete, mas dois cremes de cortisona...

Fique-se pela primeira parte, não lhe compete, não acrescente mais nada. Deixe-se ficar como está, não tem nada com isso, que se saiba a sua placa identificadora diz farmacêutica e não médica, por isso, resuma-se à sua insignificância e vá abrir a gaveta para me dar o que diz a receita. Se tiver dúvidas, pode sempre voltar à faculdade e tirar um curso que lhe permita fazer esse tipo de observações. Ou acha que o médico não sabe o que faz? Talvez ache que o convenci a dar-me duas coisas com cortisois porque gosto de me encharcar em medicamentos? Se calhar acha-me com cara de viciada? Se fosse para a puta que a pariu fazia melhor figura.

Era o que eu devia ter dito na altura, e não ter voltado resolutamente as costas, com a promessa de nunca mais voltar àquela farmácia. Porque alguma dia que me esqueça da promessa que fiz volto lá e acontece exactamente o mesmo, a putinha faz o mesmo e sai impune.

Raios partam a sabichanice.
E raios partam a estupidez de ficar entupida perante uma coisa parva sem pronunciar as palavras mágicas livro de reclamações, já.

1 comentário:

Лев Давидович disse...

Em grande nível