Arranjar sarna para se coçar, diriam os antigos, que é o que as pessoas melhor sabem fazer.
Eu acrescentaria arranjar do que se queixar e queixar-se aos outros.
Porque ficar com a miséria dentro de si faz mal à alma, então há que expurgar, há que exorcizar, há que lamentar profundamente o que as sortes trouxeram àquele que seria, certamente, feliz se não existisse um maldito qualquer que lhe desse que fazer.
E também nada seria se não se pudesse queixar, e fazê-lo saber aos outros.
É um contra-senso, mas não faz mal; interessa sobremaneira é poder queixar-se, alto e bom som, o abuso de direito que os outros fazem, e como fazem impura e maculada a sua existência.
Oh como é triste ser-se triste, mas ao menos é-se triste com o queixume na ponta da língua, mesmo que o lamento nada tenha de justo, mesmo que seja só pelo gosto de abrir a boca e desfiar um longo rosário de ais, sem nexo ou causa.
Oh como é bom sacudir a água do capote e lançar na praça pública uma culpa que morre solteira, mas que por lá ser lançada, passa a ser casada e adúltera ao mesmo tempo, a badalhoca.
Oh como é triste ter gente que estraga os planos aos que pensavam ir de férias mais cedo, perdoe-se às almas que têm mais objectivos que aprendizagens que só servem para enfeitar currículos, que dão mais importância ao fundamental que ao supérfluo, que esses serão a desgraça das gerações vindouras, e daqueles que já cá estão e que têm de arcar com tais actos.
Oh como é triste viver-se num país democrático, com normas a ditar condutas e direitos a serem respeitados, e profissões que exigem cadastros limpos...
E como é triste gente que anda pela rua fora, pensando que são os melhores lá do bairro e que ainda estará para nascer o cromo que terá as lentes mais grossas e os dentes mais encavalitados, quando no fundo, são a unha do pé do gigantesco monstro bastardo, na Casinha dos Monstros Civilistas.
Um dia que apareça morto e a boiar em qualquer canal aquático, imputem a Diligentia.
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